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Em busca de um responsável de carne e osso

Em busca de um responsável de carne e osso

O incansável viajante foi admoestado por seu leitor João Motta por não ter dito que o preço cobrado por um corretto no Florian, de Veneza, é extorsivo. “Indeed”, respondeu Mr. Miles, lembrando que a bebida na clássica cafeteria não custará menos de 10 euros (ou seja, pelo menos R$ 35).O mesmo leitor, porém, pontificou que um corretto é um café expresso com sambuca – e não com grappa, conforme dito pelo correspondente britânico. “Nessa questão, I’m afraid to say, seu protesto não é razoável, dear John.

In fact, pode-se tomar um corretto ao gosto do freguês. A grappa é o ingrediente mais solicitado pelos italianos; o sambuca (um licor de cereais com infusão de anis estrelado) também é largamente usado. Há gente que prefere misturar o café a um conhaque ou a umbrandy. Para mim, não importa a infusão. O fundamental – e o correto – é que ela faça parte do expresso. Ou mesmo que a grappa, o sambuca, o conhaque ou o brandy venham sem o café. Fica ótimo.”

A seguir, a pergunta da semana:

Caro Mr. Miles: reservei um voo pela internet e, por motivos técnicos, ele foi adiado por mais de um dia. A empresa mexicana não nos hospedou em um hotel próximo ao aeroporto, nem nos ofereceu um jantar – nem sequer nos deu uma alternativa para que chegássemos ao destino. O senhor não considera isso um desrespeito?

Ian Senatore, por e-mail 

Well, my friend: eis porque aprecio a tecnologia mas não me fio nela. Marcar viagens por meio eletrônico pode, in fact, ser uma mão na massa. A questão é que nunca vemos quem está por trás daquela tela que nos oferece tantas vantagens, fotos tão artificiais (sometimes) e elogios que, muitas e muitas vezes, provêm do próprio dono do estabelecimento, de seus familiares, funcionários e afins.

Mencionarei, a propósito, o caso de um antigo amigo americano, Mr. Robinson, que passou por uma desagradável experiência na Escócia.

Como não existem castelos reais nos Estados Unidos, o sonho de Mr. Robinson era viver a experiência de ter sido um nobre ou um cruzado em priscas eras. O pobre homem, depois de grande procura, encontrou na internet um castelo promissor, do longínquo ano de 1347, totalmente remodelado. Como o preço lhe cabia – e o destino também –, lá foi Mr. Robinson rumo ao país em que, apesar de os homens usarem saias, produz-se um uísque muito viril.

Havia, de fato, um castelo do século 14. E, conforme dito, ele havia sido totalmente remodelado. Unfortunately, a reforma ocorreu no século 18, de modo que os sinais do tempo eram de novo evidentes em todos os ambientes. A aventura foi valorizada com a presença de grandes morcegos e gritos infantis invadindo a madrugada. É o que alguns chamam de “uma experiência”.

O seu caso, my dear Ian, parece-me o mesmo, em escala menor – ou, pelo menos, sem morcegos e assombrações. Para não correr riscos desnecessários, o melhor mesmo é que, depois de escolhido o destino e a companhia aérea, você recorra a um profissional confiável da área de turismo. Pode ser um agente, um operador ou um consultor. Mas tem de ser sério. E seria ainda melhor se fosse seu amigo ou viesse com ótimas referências.

Se você tivesse tomado essa decisão – que não lhe custaria nada, porque esses experts são remunerados por meio de comissões –, o problema teria, ao menos, um responsável de carne e osso. Conhecedor das regras do turismo, ele possivelmente faria valer seus direitos e o livraria da enrascada. Um conselho que valeria também para Mr. Robinson que, miserably, resolveu nunca mais sair de sua pequena Springfield (uma das muitas que existem na América).

Escrito por Miles: É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 312 PAÍSES E  16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS

Artigo originalmente publicado no site Estadão, dia 13 de setembro de 2016.

Para acessar a matéria original clique aqui.

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